quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Bom dia! A verdadeira musica caipira


Não se pode jamais falar sobre música sertaneja raiz sem mencionar Cornélio Pires e o caminho por ele desbravado - e que por outros também foi trilhado -, pois foi graças a ele que chegaram aos discos as primeiras gravações dos genuínos caipiras, a partir de 1929.
"CORNÉLIO PIRES" nasceu em 13 de julho de 1884 na chácarade seus tios no Bairro de Sapopemba em Tietê, estado de São Paulo.
Filho de Raimundo Pires e Anna Joaquina de Campos (Dona Nicota). Segundo confidenciou a amigos posteriormente, devia chamar-se Rogério, mas na hora o padre, velho e surdo, ouvindo muito mal entendeu Cornélio, e assim ficou.
Morou também em Santos, Botucatu e Piracicaba, exercendo atividades de tipógrafo, repórter, professor de educação física.
Em 1910 lança seu primeiro livro "Musa Caipira" com enorme sucesso. Produziu um total de 24 livros onde se destacavam: "Quem Conta um Conto", "Cenas e Paisagens de Minha Terra", "Conversas ao Pé do Fogo", entre outros.
Corria o ano de 1929, o Brasil enfrentava uma crise semelhante a esta em que vivemos hoje. Cornélio já firmava nome ao lado de Setúbal, Valdomiro Silveira entre outros.
Como abraçara o dialeto caipira desde 1910 com "MUSA CAIPIRA" botou a idéia na cabeça de que também devia colocar em discos as suas anedotas e a autêntica música caipira. Já residia em Piracicaba, e sabia que lá existia autênticos cantadores e violeiros. Já fizera apresentações com Nitinho e Sorocabinha. Então tentou gravar, mas as gravadoras não aceitavam o gênero caipira. Cornélio insistiu e bancou do próprio bolso uma gravação de 6 discos (de 5 mil de cada disco). Pagou adiantado, foi à Piracicaba e lá organizou a sua famosa "TURMA CAIPIRA CORNÉLIO PIRES", que na sua primeira fase era composta por Arlindo Santana e Sebastiãozinho (Sebastião Ortz de Camargo), Zico Dias e Ferrinho, Mariano da Silva e Caçula, Mandi e Sorocabinha (Olegário José de Godoy). Os discos saíram em maio de 1929 com 9 números de humorismo interpretados pelo próprio Cornélio Pires e mais 3 danças paulistas, - um samba paulista, um desafio, e intercalados uma cana verde e um cururu pela "TURMA CAIPIRA CORNÉLIO PIRES".
Já no segundo suplementode 5 discos, foi que a dupla Mariano e Caçula gravou e lançou em outubro de 1929 a primeira moda-de-viola gravada no Brasil "JORGINHO DO SERTÃO". A segunda música gravada foi "A MODA DO PEÃO" (OI VIDA MINHA) e a terceira foi "BIGODE RASPADO", todas por Mariano e Caçula. Cornélio e sua turma caipira, viajaram por vários municípios do interior de São Paulo.
Fizeram apresentações na capital sempre com muito sucesso. Tinha de repetir as apresentações, a pedido do público. O fracasso em que o diretor da gravadora Colúmbia apostou, não aconteceu. As pessoas faziam filas na gravadora tentando adquirir os discos. Saíram reedições dos discos. Gravou 104 músicas em 52 discos de 78 rotações, de 1929 a 1930.
Esses discos além da "TURMA CAIPIRA CORNÉLIO PIRES" trazia músicas de Raul Tôrres, com o pseudônimo de Bico Doce, e de Paraguassu, com o pseudônimo de Maracajá, e também de outros artistas que gravaram na "SÉRIE CORNÉLIO PIRES", - discos de selo vermelho, que só Cornélio podia vender.
Novas duplas surgiram, tais como: Nhô Pai e Nhô Fio, Xerém e Tapuia, Palmeira e Piraci, Alvarenga e Ranchinho, entre outros.
Cornélio Pires saía com dois carros anunciando as apresentações e lançamento do disco. Um dos carros ia apertadinho de discos e livros.
Lançada a semente do sucesso, foi aparecendo mais gente e melhorando tudo, definitivamente, o grande público começou então, a ouvir a música dos caipiras. Nas décadas seguintes, apareceram grandes nomes e bons compositores, melhoraram o lingüajar falado e escrito, a música deixou de ser folclore para chamar-se "música sertaneja". Cornélio ficou conhecido como o "Bandeirante do Folclore Paulista".
Morreu em São Paulo, em 17 de fevereiro de 1958, aos 74 anos.

A música caipira viveu seus melhores momentos, e também os piores, no século 20. A seguir a cronologia de surgimento dos principais personagens, compositores e cantores, da música caipira.
Década de 1920: início da revolução musical caipira.
_ Cornélio Pires e seus caipiras, Ferrinho, Sebastião Ortiz de Camargo, Caçula e Mariano (tio e pai, respectivamente, do sanfoneiro Caçulinha), Arlindo Santana e Zico Dias. Cornélio foi o autor do primeiro disco caipira gravado em 1929.
Década de 1930: formação das primeiras duplas.
_ Arlindo Santana e Joaquim Teixeira.
_ Alvarenga e Ranchinho.
_ Capitão Furtado, dentre outros feitos históricos foi ele quem deu nome a dupla Tonico e Tinoco.
_ Irmãos Laureano.
_ Jararaca e Ratinho.
_ João Pacífico, compositor de grandes sucessos como Cabocla Tereza, Chico Mulato e Pingo d’Agua.
_ José Rielli.
_ Mariano e Cobrinha.
_ Raul Torres e Serinha. O primeiro, ainda nesta década, formou dupla com o grande violeiro Florêncio.
_ Torres e Florêncio. Raul Torres foi ao Paraguai em 1935 e reivindicou a introdução dos rasqueados e guarânias na música caipira, que nesta época era chamada de música sertaneja. Hoje o termo “sertanejo” é sinônimo de música romântica de qualidade questionável, infelizmente.
Década de 1940: consolidação da música caipira.
_ Anacleto Rosas Júnior, compositor de sucessos como Cavalo Preto e Os Três Boiadeiros.
_ Carreirinho.
_ Cascatinha e Inhana, dupla premiada e referência de sucesso, conheça a linda história de amor e sucesso.
_ José Fortuna, autor, dentre outros grandes sucessos, da adaptação da guarânia Índia, interpretada por Cascatinha e Inhana.
_ Lourival dos Santos.
_ Mário Zan, italiano de nascimento e caipira de coração, criador da música Chalana.
_ Nhô Pai.
_ Palmeira. Na década seguinte se tornou diretor musical da gravadora Chantecler e criou, em 1959, o selo sertanejo.
_ Tonico e Tinoco, dupla de irmãos sinônimo de sucesso e autenticidade.
_ Zé Carreiro.
Década de 1950, período de ouro da música caipira.
_ Teddy Vieira, compositor do primeiro escalão caipira.
_ Tião Carreiro e Pardinho, entre idas e vindas, uma dupla que transcendeu o tempo e balançou o chão brasileiro.
_ Sulino e Marrueiro.
_ Vieira e Vieirinha, levaram a catira (que andava meio esquecida) para a música caipira.
_ Irmãs Galvão.
_ Biá.
_ Pedro Bento e Zé da Estrada, dupla que trouxe a cultura mexicana para a música caipira. Exageraram nos trajes e trejeitos mexicanos.
_ Goiá.
_ Silveira e Silveirinha.
_ Dino Franco.
_ Inezita Barroso, a paulista de classe média apaixonada por cultura caipira.
_ Zacharias Mourão, compositor de Flor Matogrossense e Pé de Cedro (música de Goiá, com parceria de Zacarias Mourão).
_ Zico e Zeca.
_ Zilo e Zalo.
_ Elpídio dos Santos, autor das canções de 23, dos 32, filmes de Mazzaropi.
_ Liu e Léu, irmãos de Zico e Zeca, primos de Vieira e Vieirinha. Família com talento de sobra.
Década de 1960: início da desaceleração.
A música caipira começou a perder espaço com o avanço da televisão, principalmente para a bossa nova.
_ Abel e Caim.
_ Caetano Erba.
_ Moacir Franco.
_ Paraíso.
_ Sérgio Reis
_ Téo Azevedo.
Década de 1970: últimos suspiros de uma época áurea.
_ Renato Andrade.
_ Renato Teixeira, poeta caipira, lançou em 1973 o clássico Romaria.
_ Cacique e Pajé
De 1970 pra frente a música caipira vêm atravessando caminhos tortuosos. O movimento de “modernização” da música caipira culminou com o nascimento do chamado “jovem sertanejo”, que trouxe instrumentos eletrônicos e composições que nada tem a ver com o ambiente e a vida do caipira.
O que traz esperanças para os apaixonados pela autêntica música de raiz são os artistas que lutam bravamente para manter viva nossa história, dentre os que merecem destaque encontramos Almir Sater que despontou para o sucesso nos anos 80.




Texto: Sandra Cristina Peripato

Fonte: Editora Ottoni e Prosa Caipira
Aparecido de Souza
São Paulo SP Brasil Br

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